sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Ao ignorante

"O homem é corda distendida entre o animal e o super-homem: uma corda sobre um abismo; travessia perigosa, temerário caminhar, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar.". 
.Nietzsche - Assim falou Zaratustra, 1883.

 
 Pandora, John William Waterhouse
 

Ouça você, que acha que sabe das coisas
Que aparenta tantas certezas, com seus pensamentos errôneos
E todas as incoerências
Que tornam sua existência um pântano cheio de lodo.


Sua fé esconde a fraqueza de não querer enxergar
A verdade por trás das máscaras, o futuro que não vai chegar


Enquanto isso lá fora ninguém vai chorar por você
Afundado em tanta superficialidade que ainda te faz crer,
ser a vida aqui na terra, apenas o que o seu olho vê.  


Mas sempre que as luzes se apagam
Te abraça apenas a ignorância
Amante traiçoeira e fria
Que na quimera de sua vida
Nada te deixa aprender



quarta-feira, 18 de junho de 2014

Desgosto do gosto geral

[...]"não é sábio (sõphrõn) aquele que não desejou (epithumein) o feio e o mal nem deles se aproximou: pois nesse caso não há nada sobre o qual tenha triunfado (kratein), e que lhe permita afirmar-se como virtuoso (kosmios)”
.Antifonte, o Sofista.
in A história da sexualidade vol.2, Foucault



 
O gosto de muitos é desgosto de poucos
Poucos esses que não se deixam enfeitiçar
Querem condicionar meu desejo
Querem que eu me renda ao vulgar

A sociedade das massas deixa a consciência entorpecida
E como em rebanho, seguem uns aos outros
É mais fácil obedecer à cartilha
Tão simples se satisfazer com o gozo fútil
Ao menos por hoje seu ego está afagado
E ainda existe a hipocrisia
O futebol e o samba
Renda-se à bola
Renda-se à bunda
E nessa ciranda, à umbanda
Mas domingo é dia de missa

O caminho mais simples é cômodo quando não se almeja a verdade
A superficialidade é o bastante quando você não sabe quem é
O que se consegue fácil é melhor que nada
se você não se importa com o que quer ganhar
Pegue logo o que te esfregam na cara
E aceite mau gosto como sendo o popular

Tanta coisa acontece nas entrelinhas
Mas só nos ensinam a ler a superfície
O óbvio, vulgar e corriqueiro
Não tem jeito
É o poder que importa
Mas só o que vejo em volta
São bobos da corte coroando-se reis
Cada qual solitário em seu castelo de ilusão
Construído de pequenos prazeres e orgasmos fingidos:
Migalhas de auto-enganação

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Unpredictability

l(a
le
af
fa
ll
s)
one
l
iness

.e. e. cummings.





He burns me with his eyes 
Of rage
And crawl my skin, roughly 
Subdue my wildness in his hands
While i surrender, while i surrender

Emptness 
He no longer desires me
In the silence i live these days 
Being denied
Time shattered my words and my heart
And defoliate the tree of lasting love

And yet, i came to stay
With lust and hungry
Which i am made



* Fotografia Gilles Berquet


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Frivolidades

"Não há no mundo amor e bondade bastantes para que ainda possamos dá-los a seres imaginários"

.Nietzsche.


A palavra não afaga
A presença não é suficiente
Perceba, pois
Alguns se entorpecem de ideias confortantes
Fingindo a si mesmos que existe um sentido
Para continuarem em frente
Para esquecerem o medo
Para fugirem da solidão


Provocarei um incêndio
E sozinha, acharei outro caminho
Mas dentro de mim uma porta se fecha
Barreira entre o mundo e eu
Entre a falta e o que não encontro


Frustração,
Estamos todos à deriva





* Gravura de  Goya, da série Os Caprichos

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Nosce te ipsum

"Depois destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta aberta no céu; e a primeira voz que, como de trombeta, ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer."

Apocalipse, 4:1

Nosce te ipsum



O caos, todas as possibilidades latentes
Fervilhantes de vontade e potência
A matéria em busca de transformação

Acaso, a lástima do tempo
Que em segredo impulsiona planetas, estrelas, partículas
E meus desejos, inutilmente
A espera do momento eminente, quando a desordem
Transforma-se em autarcia e equilíbrio.
Fatalidades...

Ou haveria intenção?
Na lógica dos arranjos perfeitos
Que une os corpos celestes,
As bocas sedentas 
Com dentes arreganhados, cravados na carne da minha memória
Tudo em um átimo
E no fim, solidão 
                                                      
                                                    caos novamente.