Como morrer e renascer todos os dias

 Detalhe da Fênix renascendo de sua pira do Bestiário de Aberdeen, 1200

A cada reviravolta,

Revolto-me, reviro-me, refaço-me

Entre todas essas linhas sutis que separam uns e outros

Nesses espaços que nos separam a cada dia

Morremos em frases não ditas

Agonizamos entre vontades urgentes

Passam eles, fugazes, pelo mundo

Eu, indelével

Tento uma vez mais outra revolução

"Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos. Que jamais poderiam compreendê-la”

.Charles Bukowski. 

 

Como se houvesse aceitado a incumbência de me destruir e me retratar

Em pulsos abertos e combustões espontâneas,

Espalmo as mãos para absorver a queda lenta nos precipícios noturnos

Que adorno com as facas embebes em lágrimas insones

Transito entre eu e eles

Mordiscando vez ou outra os calcanhares do tédio

Para meu próprio gozo e indignação dos ascetas

* Pintura de Jean-Gabriel Domergue

Quando duas galáxias colidem

[...] "e o universo reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu."

.Álvaro de Campos. 

Media os passos  em anos-luz, por isso acreditava na existência de outros universos internos individuais que pudessem abrigar vida inteligente. Esperava inclusive pela passagem do cometa ainda nesse milênio, o que faria seus próprios planetas e estrelas se desorbitarem momentaneamente com tamanha força gravitacional que, se pudessem prever, os cientistas atestariam ser outro Big-Bang.

*Crétidos da imagem daqui

Grito

"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."

.Clarice Lispector.

 

 Jogo os dados mais uma vez, tento a sorte
Meticulosamente, ora me esguio ora me exponho
Contrariando minhas próprias regras
Quero a subversão dos desejos em alegorias palpáveis
Para que no final, quando não precise mais da realidade
eu tenha algo para enfeitar minha estante.

Épico

"Não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça"

.Epicuro.

Só The Cure no escuro, não cura.
Cura-te com Epicuro.
Ele cura. E sem escuro.
Épicuro.

*Foto do Samam

Estanque

"Ser-se o que se é, era grande demais e incontrolável."

* Clarice Lispector *

Não fumava mais esse cigarro pelo vicio

Mas pela urgência de soltar a fumaça que insistia em ficar no ambiente

Como se a respiração fosse materializada e assim soubesse que estava viva

Por onde andara todo esse tempo, perdida?

A urgência de um grito que se formava na garganta

Sem a garantia de que a partir daquele momento sua vida seria outra

De excesso em excesso cambaleava, para dar continuidade ao movimento de viver.

* Foto: Man Ray

Pornotapados

" O que é a carne? O que é esse Isso
Que recobre o osso
Este novelo liso e convulso
Esta desordem de prazer e atrito
Este caos de dor dobre o pastoso.
A carne. Não sei este Isso. "

. Hilda Hilst .

Interessantíssima a idéia dessa artista espanhola Paloma Blanco. Ela se utilizou de revista de conteúdo pornográfico e fez pinturas por cima, transformando cenas de sexo e orgias em cenas corriqueiras do cotidiano, como cozinhar, praticar esportes e tomar um chazinho. Dá para levantar vários questinamentos, como por exemplo o que é sexy, a função do nu na pornografia e a própria prática do sexo como uma mercadoria de consumo e símbolo de status sendo uma coisa tão corriqueira e circunstancial como lavar um prato! E o melhor são as feições de prazer mantidas nas montagens!!!
Em tempo: o trabalho chama-se Pornotapados!!










A minha preferida: