terça-feira, 8 de setembro de 2009

Corpo.

"O teu corpo muda
independente de ti.
Não te pergunta
se deve engordar.

É um ser estranho
que tem teu rosto
ri em teu riso
e goza com teu sexo."
*Ferreira Gullar*


Imagino, transcorro sobre o corpo

O gosto, o cheiro

Arranco a farpa do gozo, o grito, a dor

Penso em não mais voltar

Não quero o vício

O vício me dói nos sentidos

O cheiro, o gosto

Me arranca a saliva na ponta da língua

O sexo.

*Crédito da foto do Man Ray

Passado.

"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente"

Mario Quintana


E se o passado fosse apenas uma casca
Que com o tempo seca,
Descasca.
A lasca a ser cortada
Arrancada.
Mas por dentro, a mágoa
Estilhaço, caco
Dilacerando a ilusão do tempo,
Do movimento
Que tudo apaga.

*Créditos da gravura de Angelique Houtkamp

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Para espantar o pó...


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Corpus Christi











* Ilustrações do Angeli.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ode à madrugada e todas as suas sombras...

"Mais uma dose. É, claro que eu to afim. A noite nunca tem fim.
Por que que a gente é assim?"
.Cazuza.

foto: Helmut Newton

Que sina a minha...
Cachaça, madrugada e fumaça
No bar eu faço meu descarrego
A Baco dedico um trago
À Pombagira, um despacho
E em Vênus me converto.

E no outro dia, expulsa do paraíso,
A consciência me atormenta
Regurgito o juízo
Mas não adianta, por mais que eu tente
Dessa sina sou dependente
É lá que solto meu riso.

*E aqui na casa em frente a minha alguém está ouvindo Ramones.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O deleite da beleza


Miles Aldridge é um fotógrafo londrino que nasceu no início dos anos 60. É um dos mais criativos fotógrafos de moda (na minha humilde opinião) e suas produções são sempre muito características, com cores e texturas exageradas, mas que no fim parecem ter sido combinadas na medida certa!
Suas fotografias já foram publicadas das mais renomadas revistas de moda, dentre elas Vogue, Número, Allure e New York Times Magazine, além de ter feito campanhas para marcas como M.A.C e Carolina Herrera.
Um deleite para os olhos!!!








Quando a psicologia vai para o lado negro da Força!

"No Luke, I am your Father!"
.Darth Vader.



Quando li essa notícia até fiquei com vergonha de ser psicóloga:

Uma psicóloga do Rio de Janeiro sofreu censura pública por parte do CFP ( Conselho Federal de Psicologia) por oferecer tratamento para curar homossexualidade. E para piorar, ainda por cima ela é evangélica e indica a religião para seus clientes como sendo parte do "tratamento".
Nada contra quem quiser se "curar" de sua homossexualidade, afinal cada um faz o que quiser de sua vida. A questão aqui é a forma como essa "profissional" considera a homossexualidade como sendo uma doença ou desvio.
O cliente que procura um terapeuta por estar sofrendo por sua orientação sexual não vai ser atendido com a perspectiva de mudança dessa orientação. Caso isso aconteça, será parte de um processo de auto conheciemento e consciência de si e seu lugar no mundo, não de um direcionamento por parte do psicólogo!!!

E o pior é que no blog dela tem muita gente apoiando sua causa! Inclusive outros psicólogos.

Abaixo um pedaço da entrevista que ela deu para a Folha de São Paulo e peguei daqui. Medo!

FOLHA - Como a sra. vê o homossexualismo?
ROZÂNGELA ALVES JUSTINO - É uma doença. E uma doença que estão querendo implantar em toda sociedade. Há um grupo com finalidades políticas e econômicas que quer estabelecer a liberação sexual, inclusive o abuso sexual contra criança. Esse é o movimento que me persegue e que tem feito alianças com conselhos de psicologia para implantar a ditadura gay.

FOLHA - O que é ditadura gay?
JUSTINO - Há vários projetos no Congresso para cercear o direito de expressão, de pensamento e científico. Eles foram queimados na Santa Inquisição e agora querem criar a Santa Inquisição para heterossexuais.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Don´t make me kill you

É assim pela manhã.

Luminosidade

"As portas batem as toalhas voam
o dia se esbaqueia como um pássaro dentro de casa
(ou uma lembrança
dentro da casa)
Véspera do dia em que de repente enlouquecerei"
.Ferreira Gullar.



Depois que você levou as cortinas embora a luz não parou mais de entrar... 




Barbie e Hitchcock




Em 1963 o genial Alfred Hitchcock dirigiu " Os Pássaros " e em comemoração aos 45 anos do lançamento do filme a Mattel lançou a Barbie "Os Pássaros":



Facas ou... A morte cotidiana

"Porque há desejo em mim, é tudo cintilância."
.Hilda Hilst.




Quero ser assistente do atirador de facas
E de olhos fechados
Quem sabe de repente
A lâmina corte rente
Esse sem fim de ais


E do sangue verta espuma
Como a Vênus nascendo do mar
E do meu corpo em carne e febre
O desejo se eleve,
A luxúria tome lugar

E como em um rito sacro
Seja meu corpo profanado
Entregue aos sete pecados
Ao paraíso consagrado

E nessa ciranda de facas
Misturados sangue e gozo
Me transmuto em madrugada
Para amanhã morrer de novo


* A foto é cena do filme A Mulher e o Atirador de Facas ou A garota na Ponte. Dica!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O porto e a porta aberta

"Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente pra fazer tantos atos, dar corpo ao suceder. O que induz a gente para más ações estranhas. É que a gente está pertinho do que é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe!"
.Guimarães Rosa.




Aporte
A porta aberta
Vou seguir aquela linha imaginária
Levo algumas desilusões, estrelas- cadentes, e uma mala cheia dos erros que cometi
As pedras nas mãos eu já soltei
Penso se os dias difíceis se foram
E impura, cogito uma ressurreição
Aporto?
O porto está próximo
Não tenho medo dos ventos quentes de outrora
Que do desejo se aproveitam para me distrair
Não aporto
O porto é a porta fechada

Vou seguir aquela linha imaginária.

* Crédito do desenho de Angelique Houtkamp

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Não é?!!!


sexta-feira, 8 de maio de 2009




Sabia da ordem das coisas

Das perdas inevitáveis, partidas, da solidão às 3 horas da manhã

Sabia do desejo da carne, da lascívia que queima o corpo de dentro para fora

Das dores de amar, desamar, de não amar

Sabia do ciclo do mundo, do começo e do fim de tudo a todo tempo, do eterno reinício

Da mentira, da maldade, da inveja

E de repente nada disso mais fez sentido e tudo se tornou estranho

O mundo não era mais o mesmo, os olhos piscaram no escuro de um tempo em que ela se percebeu em algum lugar diferente

Apenas Aquele outro permaneceu ali...

Sempre

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A essência de Gustav Klimt



A Essência de Gustav Klimt é o título desse ensaio fotográfico de Moises Gonzales que reproduz as obras do pintor Gustav Klimt (1862 - 1918).


Pintor simbolista e representante do movimento de Art Noveau na pintura, Klimt teve muitas de suas obras queimadas pelos nazistas que as consideravam uma arte "degenerada".
Water Serpents II

A temática de Klimt em sua fase mais conhecida é em sua maioria de nus femininos em posições exuberantes e sexuais envoltas em ricas e infinitas ornamentações. Suas figuras femininas possuem expressão de luxúria, com bocas entreabertas e olhos fechados. Inspirado na estética da arte bizantina seus cenários possuem muitos detalhes, ricos ornamentos, arabescos e espirais, com predominância dos tons dourados.





terça-feira, 14 de abril de 2009

Do inconsciente e suas maravilhas


"A beleza será convulsiva ou não será"
Andre Breton



SURREALISMO, sm. Automatismo psíquico puro pelo qual se propõe exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de todo controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética ou moral.(BRETON, André, Manifesto do Surrealismo, pg. 10)


O Surrealismo foi um movimento revolucionário, artístico, cultural e literário que surgiu logo após a Primeira Guerra Mundial.
No início do século XX a Europa estava no auge cultural e científico, mas com o deflagar da Guerra, sua cultura entra em colapso devido à instabilidade econômica e social. Como conseqüência começam a surgir em certos países certos regimes políticos de caráter nacionalista, o que mais tarde dará origem a outro conflito mundial.
A produção artística do século XX reflete a descrença e o pessimismo que vigoraram na sociedade no período entre- guerras.
O Surrealismo se desenvolveu primariamente do Dadaísmo. O movimento Dada começou em Zurique, na Suíça em 1916, como uma reação contra a guerra e o tradicionalismo por artistas suíços e alemães exilados na Suíça e que eram contrários ao envolvimento de seus respectivos países na guerra.


O marco inicial do Surrealismo é considerado a publicação, em 1924, do Manifesto do Surrealismo, de André Breton. O movimento procurou ultrapassar a percepção convencional e tradicional da realidade, desenvolvendo pesquisas estéticas fundamentadas nas descobertas freudianas do valor do inconsciente enquanto complemento da vida consciente e da capacidade comunicativa do sonho. Desta forma conseguem ultrapassar o niilismo redutor do Dadaísmo, procurando então associar elementos díspares, através da dissociação dos objetos dos seus contextos convencionais de forma a obter significações inesperadas.



O Sonho, Salvador Dali, 1931


O automatismo presente na produção surrealista leva à criação de imagens oníricas, aparentemente sem nexo e ligação, mas dotadas de uma simbologia e mitologia próprias, valorizando e atraindo a atenção para tudo o que antes era reprimido – o subterrâneo da modernidade, o erótico, o bizarro, a substância inconsciente da atividade mental.




Iniciado como um projeto coletivo, que uniu experimentação imaginativa à um objetivo corrente teórico e literário, o surrealismo floresceu em uma representação diversa do inconsciente psíquico, sendo assim muito calcado nas idéias de Freud e da psicanálise, recém divulgadas na Europa.
O movimento em si foi uma intervenção nas estruturas sociais, cultural e política da época, redefinindo perspectivas da sexualidade, masculinidade, imaginação e da mulher. Sua mais radical e controversa vertente artística foi visionar o corpo maternal da mulher e retratar o erótico feminino.
Em vez de reformar a persistente diferença de gênero da sociedade da época, o surrealismo admitiu a dominância masculina como uma construção social através da subjugação e exclusão. Os surrealistas aceitavam que a diferença era natural, pois ocorria como um processo inconsciente, que era percebido como primitivo e inato.

* Créditos das fotos Man Ray.

Devaneios

"Quanto mais ando, querendo pessoas, parece que entro mais no sozinho do vago..."
Guimarães Rosa




* Foto de stencil do Banksy

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Do Fetiche e suas naturezas


" Quem sonda o símbolo assume todos os riscos "

Oscar Wilde

A palavra fetiche vem do francês, que se originou do português feitiço. Foi primeiramente usada pelos portugueses para designar os artefatos religiosos usados pelos africanos, que lhes atribuíam valor espiritual.
O termo "fetiche" se tornou conhecido na Europa quando o estudioso frances Charles de Brosses (1709-1777) tentou explicar o politeísmo Grego através do fetichismo (atribuição de poderes mágicos a certos objetos) encontrado na África Ocidental.

Segundo Freud, fetiche é o ato de atribuir a um objeto um significado que por si só ele não possui. O objeto de fetiche seria a substituição de um afeto por um objeto inanimado, gerando assim um ilusório "controle" ao fetichista. Para Freud o fetiche era uma perversão.

Marx desenvolveu uma teoria política, social e econômica para o fetichismo, inclusive muito importante em sua obra, onde faz uma crítica ao capitalismo, que cria um fetichismo de mercadoria, onde produtos e mercadorias não possuem valor em si, mas sim como símbolos de status e poder, fomentados pela comunicação de massa, fezendo com que o desejo se torne uma necessidade.



E nesse balaio, até os pés de coelho, trevos de 4 folhas, ferraduas e as imagens de santos da religião católica podem ser enquadrados como fetiches (será que o papa vai me excomungar??)

E é claro, por último, o mais conhecido deles, o fetiche sexual, onde botas, chicotes, algemas, lingeries e derivados fazem parte de um cenário onde o ato sexual é menos importante do que o ritual estético e os papéis de cada participante.

O fetiche a muito deixou de ser coisa de pervertidos, afinal, estamos cercados de "produtos" dos quais a mera necessidade a tempos deixou de ser critério para o desejo de posse... As propagandas evidenciam que o status e o valor simbólico dos bens de consumo são na maioria das vezes o critério para sua aquisição... O carro deixou de ser apenas um meio de locomoção e vem acrescido de sentimentos como liberdade, conforto, valores familiares e poder.

Nada contra!! Afinal somos seres humanos e possuimos um maravilho universo interno, constituído não só pela cultura em que estamos inseridos, mas também por nossas experiências pessoais.


Evoluímos ao ponto de construir um sistema simbólico tanto pessoal quanto social e agora " a gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte".

O fetichismo relaciona-se então com a fantasia, com o simbólico, que está ligado ao objeto, não dependendo necessariamente da natureza real deste.


No final das contas o fetiche ocupa grande espaço na vida de todos nós... seja ele o carro potente, a calça da moda, o novo modelo de celular ou a boa e velha cinta-liga com espartilho!!!* Créditos das fotos Gilles Berquet